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Santo do Dia

São Canuto, padroeiro da Dinamarca – 19 de Janeiro

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SANTO DO DIA – 19 DE JANEIRO – SÃO CANUTO
Rei e Mártir (1040-1086)

Era filho natural de Sueno II e neto de Canuto o Grande, que subjugou a Inglaterra. O rei, seu pai, que não tinha filhos legítimos, tendo-se convertido ao bem, sob a guia de São Guilherme, Bispo de Rotschild, cuidou de o fazer educar por sábios preceptores. Canuto correspondeu perfeitamente, e em pouco tempo se aperfeiçoou nos exercícios do espírito e do corpo, que convinham ao seu nascimento.

Desde a mocidade, habituou-se aos penosos trabalhos da guerra, e realizou grandes e ousados feitos numa idade em que os outros mal conseguem ser espectadores. Limpou o mar dos piratas que devastavam as costas, venceu os estonianos, que levavam a efeito atos de banditismo contra os vizinhos, e dominou os povos da província de Sêmbia ou Samogícia, posteriormente submetida à coroa da Dinamarca.

Esses grandes êxitos, seguidos de outros ainda, lhe abriam caminho, sem dúvida, para o trono. Mas, após a morte do Rei Sueno, seu pai, os dinamarqueses lembrando-se dos perigos aos quais a coragem dele os havia exposto, quando ainda se achava apenas na segunda fileira, recearam que, se lhe pusessem a coroa na cabeça, o seu espírito guerreiro os faria correr novos e maiores perigos. Foi por tal motivo que lhe preferiram o irmão Haroldo, mais velho, porém, pouco capaz. Canuto, vendo-se expulso de um estado que lhe devia glória e grande parte do poder, retirou-se para a corte do rei Halstan, que o tratou de acordo com o seu valor.

São Canuto - (19/01)

Haroldo, não logrando por muito tempo sustentar o peso de uma coroa, mandou que o chamassem o irmão de volta e ofereceu-lhe metade do reino. Mas Canuto, percebendo que se tratava de um ardil para perdê-lo, foi bastante prudente para, na má sorte, não confiar nas promessas de um varão que, quando ela fora melhor, não lhe regateara provas de má vontade. Canuto teve a generosidade de resistir às ocasiões que se lhe apresentaram de fazer com que o país sofresse o castigo merecido pela ingratidão. Longe de voltar as armas contra ele, mais uma vez empregou no seu serviço, e continuou, sempre com o mesmo êxito, a guerra iniciada contra os inimigos da Dinamarca, a leste da Escânia, a única província que se lhe mantinha ligada. Essa grandeza de alma, que o levava a vingar a injúria com os benefícios, não ficou longo tempo sem recompensa, pois, tendo Haroldo falecido após dois anos de reinado, Canuto foi chamado com honra e elevado ao trono, devido ao seu mérito, pelo próprio sufrágio do irmão preferido, num país em que a ordem do nascimento não tinha valor nenhum, quando a não acompanhavam outras qualidades.

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Os seus primeiros cuidados, após subir ao trono, foram empregar as forças do reino para terminar, contra os inimigos do estado, a guerra que ele iniciara muito jovem ainda, às ordens do rei seu pai, e que continuara durante o exílio. Acabou-a mais gloriosamente ainda pela religião do que pelo seu próprio renome ou pelo interesse da coroa: tendo inteiramente submetido as províncias da Curlândia, de Samogícia e Estônia, viram todos que, se delas se apossara, fora apenas para fazer reinar Jesus Cristo.

Sem outros inimigos para combater, o santo e bravo rei Canuto cuidou de casar-se. Desposou Adélia, filha de Roberto, conde de Flandres, de quem teve Carlos, também conde de Flandres, e cognominado o Bom, cuja memória a Igreja honra no dia 2 de Março.

São Canuto dedicou-se imediatamente a fazer reflorescer as leis e a justiça no seu reino, e a restabelecer a antiga disciplina, desleixada por toda parte em virtude da insolência e das proezas dos grandes. Sobre tal assunto, emitiu severos mas santos regulamentos, sem que a proximidade do sangue, nem a amizade, nem qualquer outra consideração de qualquer espécie pudesse arrancar-lhe a impunidade do crime e da desordem. Sempre fez tudo com bastante prudência e equidade. Mas o que devia fazer com que lhe estimassem a virtude, atraiu-lhe o ódio e o desprezo dos mais poderosos, os quais não logravam admitir lhes fosse reprimida a tirania exercida contra os inferiores. Canuto não houve por bem deter-se por causa dos murmúrios e descontentamentos deles.

Sendo o seu principal objetivo a glória de Deus e o interesse da Igreja, concedeu várias graças aos que eram ministros do Todo-Poderoso no seu reino. E visto que a gente grosseira e rústica pouco habituada estava a prestar aos Bispos o respeito devido, e não podendo Canuto admitir que fossem tratados como homens comuns, ordenou, por expressa declaração, que precederiam os duques e teriam o posto de príncipes no estado, a fim de lhes dar autoridade e, com tais honras, elevá-los. Isentou até os eclesiásticos da jurisdição secular, querendo que somente devessem obediência aos seus Bispos. Envidou, outrossim, tudo quanto lhe foi possível para habituar o povo a pagar os dízimos à Igreja, mas não teve êxito.

Foi verdadeiramente de magnificência real na construção e fundação de igrejas em numerosos lugares, e senhor de grande liberalidade ao orná-las e enriquecê-las. Chegou até a dar à de Rotschild, capital do reino, a coroa que usava nas grandes solenidades, e que era valiosíssima. Mas estando ela, por tal motivo, mais exposta ao sacrilégio dos ladrões que as demais riquezas do tesouro sagrado, mandou que os Bispos impusessem a pena da excomunhão aos que ousassem tal atentado. Publicou em édito para tornar invioláveis aquela oblação e os demais efeitos da sua piedade, e impedir se tirasse da Igreja aquilo de que ele próprio se privava para a enriquecer.

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Era tamanha a sua caridade em tais questões que, para livrar os súditos do incômodo que lhes causava a excessiva despesa dos seus jovens irmãos, incumbiu-se do sustento deles e deixou somente a Olaf a província de Slesvic, como que em apanágio. Nada contrariava mais o seu propósito de corrigir os vícios do povo que a ociosidade e a falta de cuidados. Aquilo o levava a procurar louváveis e úteis ocupações para a todos manter a ação. Não era bastante intenso o comércio, na Dinamarca, para produzir esse efeito; a esterilidade das terras não convidava à lavoura, e os exercícios do espírito ficavam restritos a um pequeníssimo número de pessoas.

O rei, meditando nos meios de encontrar outro expediente, refletiu que a maior glória jamais adquirida pela Dinamarca fora a conquista da Inglaterra, realizada em 1016 por Canuto o Grande, e em seguida inutilizada pelos seus sucessores. Julgou que, se tentasse conquistá-la de novo, ocuparia suficientemente bem o povo. Comunicou, assim, o propósito a Olaf, o mais velho dos irmãos, e, ouvindo-lhe o conselho, anunciou-o ao povo. A morte de Santo Eduardo da Inglaterra tornava favorável a conjectura.

Mas, o Santo Rei Canuto não imaginava que seu irmão Olaf, conquistado talvez pelo dinheiro de Guilherme da Normandia, o traía e de todos os meios se valia para fazer malograr a expedição, umas vezes fingindos atrasos, outras com palavras insidiosas espalhadas entre os grandes e os militares. Canuto, descobrindo a trama, rumou, à testa de uma tropa escolhida, para Slesvic, com tal diligência, que lá surpreendeu Olaf. Convenceu-o do crime cometido e ordenou o soldados o agrilhoassem. Recusaram-se estes, pela devoção que tinham para com os reis, e por acreditarem que os grilhões eram mais duros que a própria morte, visto que os laços constituem sinal de condição baixa e servil, ao passo que a morte é comum aos homens. Mas o príncipe Érico, outro irmão de Canuto, julgando-se obrigado a preferir a obediência devida ao rei, em coisa tão justa, ao afeto por um irmão traiçoeiro como Olaf, não se pejou de fazer o que não queriam fazer os soldados. Olaf foi agrilhoado e, por mar, enviado a Flandres, onde o encerraram numa cidadela. Os grandes que tinham participado da conspiração não tiveram outra vingança senão a de arranjar novas demoras para a expedição do rei. Mediante as secretas solicitações dos emissários deles, os soldados que ainda se encontravam no exército debandaram na quase totalidade.

O rei, tendo sempre em mente o serviço de Deus, acreditou poder valer-se da oportunidade para tentar estabelecer o pagamento dos dízimos em favor da Igreja. Para tanto, propôs a todos satisfazer com tal tributo de piedade, ou pagar grande multa como castigo pela deserção geral das tropas. Todos escolheram a segunda alternativa, tamanho o horror que experimentavam pelos dízimos, considerados jugo insuportável, por serem perpétuos. Canuto, aborrecido com a escolha e desejando ainda tentar fazê-los preferir, a uma grande comodidade presente, uma leve imposição que só existiria verdadeiramente para os que viessem depois deles, nomeou comissários para arrecadarem as multas, pretendendo, dessarte, convencê-los a preferir a pagar os dízimos.

O rigor empregado pelos comissários na execução das ordens irritou sobretudo os descontentes que da ocasião se valeram para erguer o povo contra a autoridade do rei. Os comissários foram chacinados, e o furor dos rebeldes chegou a tal ponto que Canuto, não se julgando seguro no palácio, fugiu para Slesvic com a mulher e os filhos, de onde se transferiu para a ilha de Fiônia, com quantos lhe permaneciam fiéis e que não eram em grande número. Ao mesmo tempo deu ordem de que se cuidasse do que era necessário para transportá-lo, com a mulher e filhos, às Flandres, em casa do cunhado.

Entretanto, os rebeldes, orgulhosos com a retirada do soberano, por eles tida na conta de primeira vitória, resolveram atacá-lo, mediante auxílio de tropas, e tirar-lhe, com a coroa, a vida. Canuto, advertido de tal plano, quis ir de Fiônia à Zelândia, onde se achava principalmente o que lje restava de forças. Dissuadiu-se um oficial chamado Blacco, em quem depositara confiança. O traidor que se mantinha em contato com os rebeldes, querendo distraí-lo prometeu-lhe negociar de tal modo com o povo, que esse voltaria a cumprir o dever. Acreditou-lhe o rei, e deixou-o paritr.

O pérfido, após muitas idas e vindas, deu-lhe a crer finalmente que tudo havia ficado resolvido, embora só se tivesse empenhado em perder o soberano e entregá-lo ao inimigo. Canuto, que à piedade unia a clemência, preferia combater a tormenta implorando a misericórdia de Deus, a ter de abrandá-la com o derramamento de sangue dos súditos; assim foi certa vez orar na igreja de Santo Albano. Lá cercou-o um bando de rebeldes instruídos por Blacco. Os soldados da guarda, chefiados pelos príncipes Erico e Bento, irmãos do rei, enfrentaram o inimigo, mais certos de morrerem com o amo do que defendê-lo contra tamanha multidão de gente armada. Bento foi abatido na porta da igreja, após disputar durante muito tempo a entrada aos rebeldes, com extraordinária coragem. Erico, vendo-se envolvido por um batalhão, abriu caminho a golpes de espada, mas não pode tornar a entrar na igreja.

O rei, reconhecendo inevitável o perigo, abandonou o cuidado do próprio corpo para se ocupar exclusivamente da salvação da alma. Confessou-se com tranqüilidade, como se não estivesse correndo o menor perigo e, estando a orar ao pé do altar, foi atravessado por uma seta. Morreu no seu sangue, de braços estendidos, como vítima que se oferecia a Deus para expiação dos pecados do povo e dos seus, no lugar em que Jesus Cristo, tal qual hóstia imaculada, se oferecia ao Pai para a salvação de todos os homens. Era o dia 10 de julho de 1081.

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Saxão, o Gramático, autor de grande peso, que viveu no século seguinte, testemunha que Deus atestou a santidade de Canuto mediante diversos milagres, contra a insolência dos dinamarqueses, os quais pretendiam fazer passar tamanho parricídio como ato de piedade, libertador da tirania do país.

Acrescenta que os miseráveis, não logrando ofuscar o brilho dos milagres, que ainda continuavam no seu tempo em favor do santo, preferiam dizer que Deus lhe havia perdoado as injustiças, concedendo-lhe a penitência na hora da morte. No entanto, os descendentes reconheceram a santidade do rei Canuto por um culto público prestado à sua memória. Para, de qualquer modo, expiarem o crime cometido pelos pais, ergueram altares e igrejas em honra de São Canuto e estabeleceram as festas em 10 de Julho, dia da sua morte, e em 19 de Abril, dia da sua translação. (1)

(1) Acta SS., 10 de Julho. Elnot Et Saxo Gram.

(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume II, p. 26 à 33)

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